...minha escrita até pode ser autodidata,
mas está bem longe de ser autobiográfica...

quarta-feira, 30 de junho de 2010

gArGanTA

Falar o que vem à garganta sem travas e nem preconceitos, vomitar as palavras que poluem a corrente sanguínea e nos faz reféns dessa vontade estranha de arrancar a pele humana, e no palavrão que me é de direito, devolver o fel que de ti se derrama.
Já que não posso partir para a ação que condena ao cárcere, atiro em tua carcaça seca de ressentimentos, o pior do meu lado negro, ainda que seja mais do que você mereça receber.
Depois deste desterro entrego-lhe ao campo santo do esquecimento, sutilizo o meu pensar e deixo a respiração invadir. Infeliz de quem não se permite expulsar do âmago do seu ser, pequenas palavras que podem representar o nosso mais puro querer. E entre meus mantras favoritos tenho predileção por alguns bem significativos...


M.R.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

SOpraME



















Ficar...
Ainda que eu tenha muitos motivos para partir [desistir]
Quero banho quente
Café com leite
Meu cigarro de fim de tarde
Ouvir músicas que acalmam a mente
Dividir o bom e velho "cinzeiro de sapo" com alguém inteligente
Morrer de rir do que passou
Passar sorrindo pelo que ficou
Quero que a ternura me pegue no colo e me esquente
Não...
Não me irrite com suas rotinas
Surpreenda-me!
Fale-me de tuas promiscuidades
Mas também me fale de teus medos e verdades
Prometo fazer o mesmo
Para que nossas rotinas se tornem ao menos suportáveis
Deixe escapar de tuas retinas o mais puro dos sentimentos
Embale-me no teu abraço
Até o adormecer de minhas [nossas] vontades
Me acorde no meio da noite para que eu continue sonhando
Deixe-me dormir de vez em quando
Porém...
Não espere que eu fique aqui pra sempre
O “sempre” agita o meu sentir
Deixe-me partir para que eu queira voltar
ReSpIrAr
No altar do invisível com minhas orações
Mergulhar em meus escritos de várias inspirações
Estar entre amigos pra rir e chorar
Mas também preciso ficar comigo
Para enfim voltar


Dos teus braços fiz o laço que envolve meus contornos
Para que na tua [nossa] ausência estejamos juntos
Sopra-me ao vento
Ainda sim seremos dois
Enlaça-me novamente
Liberte-me depois



M.R.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

líNguA

No tom da palavra
Outras palavras
Meias palavras
Recado dado
Ironizando
Na boca
Língua
Fel

Gosto amargo que escorre dessas bocas vazias, que se nutrem do sangue de suas vítimas, para preencherem o vácuo de suas rotinas infames.
E na mediocridade se apropriam de fatos que se desenham em outras telas, observando cada traçado, depredando [desejando], a personalidade contida nelas.
Pois então que o meu profano seja a tua inspiração, e no muito que me diz, [ainda que seja infeliz], sinta-se à vontade para se envaidecer com a sua questionável perfeição.
E entre os “contrários” do meu traçado, devolvo a cada qual a sua verdade, e me abstenho de todas elas, desde que não me cobrem essa maldita santidade e nem me vistam de donzela.

Corpo
Religião
Na alma luz
No corpo trevas
Infeliz constatação
Pois que eu seja luz e trevas
Ainda que contrarie a tua perfeição



M.R.

terça-feira, 22 de junho de 2010

siLênCio



“Estou deixando o ar me respirar
Bebendo água pra lubrificar
Mirando a mente em algo producente
Meu alvo é a paz.”
Ângela Ro Ro















Assim como um poeta, me faço de letras para romper os limites, me fazer de ouvinte, falar com o vento e me permitir olhar pra dentro.
É como fazer amor com a própria alma, em um mútuo desejo de afagar a solitude que todos sentimos. Ficar muito tempo sem se dar a esse deleite, faz gerar um vazio no meio do peito, e o primeiro sintoma é buscar a atenção alheia, quando na verdade precisamos apenas estreitar as nossas próprias fronteiras.
Sabe aquele estado de privacidade que não significa propriamente solidão? É o querer estar "consigo mesmo" sem dor.
Por vezes preciso do silêncio pra me ouvir melhor...sem me preocupar em escrever um lindo texto ou um sensível poema, deixar-me apenas ser uma humilde espectadora de mim mesma.
Sinto o corpo exausto das tormentas de meus pensamentos, por me manter em um ritmo interno tão intenso, que chego a ter preguiça das pessoas e do mundo [eu me basto nesse infortúnio]. E de mãos dadas com o meu cansaço me entrego ao silêncio, pra poder ouvi-lo repousar na paz que somente minha alma pode me dar.


E assim me preencho de mim...



M.R.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

diVinO e pRofAnO


"Não quero seu sorriso.
Quero sua boca
no meu rosto
sorrindo pra mim."
Zélia Duncan













Que me perdoem as boas condutas que engrandecem a pouca verdade de quem as propaga, em um mundo humano que nos permeia os instintos, peço licença pra todos os seus belos princípios, mas hoje a minha divindade precisa de um toque da carne pra poder sentir o espírito, o grito, o audível de suas palavras [e das minhas], poder escandalizar o meu [seu] direito ao profano.
O puro prazer de pecar me faz querer ficar pra poder pedir mais uma taça de vinho tinto, dizendo o que não se diz, e se a fumaça da minha indecência afetar a tua coerência, é pra você sentir na pele o que tua divindade não te deixa invadir.
Então me deixe dizer tudo que penso [sinto], pois direi com minha boca, meus olhos, meus instintos, falarei também sem as tradicionais palavras, pra poder exalar pelos poros o que não pertence ao mundo das letras.
Como é bom não ser divina pra poder me encantar com os teus olhos me olhando com tensão, expandindo em teus instintos o estress que embriaga tua pouca vontade de se conter. E é assim que o meu profano toca o seu divino pra fazê-lo humano, e no arrepio da tua pele meu divino se derrama [ascende], pra no céu do seu desejo me presentear com o êxtase que me pertence.
Não me negue o seu calor, eu tenho frio, me queime no fogo que te consome, abandone a seriedade de um passar de dias em branco e preto, deixe-me salva-lo desse tormento para dar-lhe enfim o amor que você merece ter.
Liberte o meu pensar e [des] aperte o cinto, pois vou pousar meus incontáveis devaneios na verdade nua do teu ser, pra poder me apropriar da eternidade da tua divindade, e no pouco que me der...te convencer...que alguns momentos podem bastar para eternizar em mim o teu querer.


Deixe-me valer a tua existência...
Ser o pecado que quer cometer...
Pra sempre te [me] querer enfim...
Ter...
Você...
Em mim...



M.R.

sábado, 19 de junho de 2010

reSpirOs

















Doce necessidade de paz que invade de tal maneira, que não resta outra saída se não a de receber a visita das águas, que de tão sentidas não se faziam de rogadas, escorriam sem que a mente pudesse congelá-las com o frio da decepção, queriam apenas existir para enfim estancar a hemorragia do coração.

E naquele jorrar de puro líquido vermelho, vejo escorrer a dor que te fez partir, te fez sorrir, te fez encontrar outros rostos, alguns toques, muitos amores, e de tanto querer mudar as coisas de lugar [organizar], fez da alma a bagunça necessária para enfim encontrar o cansaço.

Absoluto cansaço que trouxe à tona uma mulher que antes “foi”...e hoje “é"...o momento de se renovar, fazendo das dores as flores de sua nova paisagem, e sem medir palavras e sensações, quer apenas o afeto que no espírito lhe seduz os sentidos, escorrega por entre lembranças, para que assim...quase sem querer...possa enfim vencer a si mesma.

Pudesse eu arrancar de seu peito esse medo que te atormenta, e assim como uma heroína venceria esse vilão, como se ele também não fosse o mais puro algoz do meu próprio coração.
No toque de sua perfeição lhe mostraria a beleza de teus defeitos, e na mistura de cores [que destoam na combinação], provar que na desarmonia também mora a sublime libertação.


E de pequenos respiros se faz a respiração...


[Com o passar dos anos, um vazio frio e escuro nos faz perceber que já não sabemos dar e nem pedir o que de mais precioso temos a compartilhar, doçura, compaixão... a compreensão de que todos nós sofremos, nos sentimos sós, imensamente tristes e choramos baixinho antes de dormir, num silêncio que nos remete a uma saudade desesperada de nós mesmos... daquilo que pulsa e grita dentro de nós, mas que não temos coragem de mostrar àqueles que mais amamos! – Rosana Braga]



M.R.

IdeNtidAde


No toque de seus segundos vai recolhendo lágrimas e risos, em uma contínua sucessão de fatos, aumentando ou diminuindo o nosso compasso, e de uma maneira tão sua nos ensina a todo o momento, como somos pequenos diante dos projetos do Tempo.


Sabe quando o ontem já não significa nada, e de repente seus medos ficam sem sentido?
Sabe quando você se depara com as chaves de sua prisão, e se dá conta de que elas sempre estiveram ali, ao alcance da mão?
Sabe quando chega o momento de ser mais você,
e ainda assim amar o amor?
Sabe quando você pega seus piores rascunhos
e se dá conta de que eles são na verdade
a sua maior obra de arte?

No olho não tenho mais o olhar da menina de antes, sou hoje a soma de todos os meus “ontens”, e não vou pagar o preço do amanhã, pois hoje sei que ele não existe.
Parei de desejar que o mundo fosse diferente e passei a me olhar no espelho, desisti de querer ter sempre razão para gostar de perde-la, vi que minha mente pode me atormentar, que preciso de amigos e que é muito triste viver sem quebrar os princípios.
Se no ontem estão as minhas dores, estão também os meus amores, minhas noites bem [e mal] dormidas, estão todas as minhas feridas que nas cicatrizes do hoje me faz ser o que sou com tudo que isso implica.

Não me compare com quem quer que seja...

Sou assim...
Sou eu mesma...
Sou o meu pior e o meu melhor...
Sou a aceitação das incertezas...
Esse foi o maior presente que o tempo me deu...
Simplesmente...
EU

"Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim"
Milton Nascimento



M.R.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Lírico Manuscrito de Perfumes


"Então que sejamos nós"








Quando se faz expulsar as palavras, que de tão ardentes queimam a mente de quem as produz, e como um ato heróico faz o texto escarrado do sentir bucólico.

Fato mansamente instruído por inúmeras vontades acumuladas, e na mistura do real com o duvidoso surge o vandalismo literário que assombra encantando por sua audácia, e entre leitores anônimos [ou não], pede o verniz que lustra a vaidade pouco aclamada no mistério da origem daquela “ilusão”.

Saboroso poder de trazer ao corpo [matéria], abdicando de sua própria idéia para que outras mentes recolham sementes brotadas de outras semeaduras, e germinadas no jardim da tua insegurança que ingenuamente acredita fazer brotar de sua própria mente o broto desta doce dança.

Pequena criança ardilosa faça abrir de seu botão a rosa, livre do questionamento da razão, pra que possa enfim, sair de seu campo de flor outras flores de invisível autor, que se redime em fazer de ti seu mais lírico manuscrito de perfumes, livre dos protestos habituais, liberta a tela de possibilidades para poder florir inúmeras habilidades.

Caso o medo lhe acomode o pensamento lembre que dele também se fabrica o espetáculo a ser dirigido, por conter em si o mistério sofrido de muitos que seguem acompanhados de musculoso temor. É singular o intercâmbio que lhe conduz, e como uma camada de frágil luz apresenta a ti simples movimentos, basta apenas libertar do pensamento vozes já tão conhecidas, embora ainda pouco imprimidas, no contexto entre a autoria e o autor.

Siga a orientação do invejável vento, que é livre no seu fluir, visto que a grade que impede o ir e vir se mostra impotente para este sábio viajor, do ar de que ele é feito [invisível ao questionamento], faz-se incontestável por ser certo o seu vital louvor.

A única grade capaz de prender o poeta e o trovador é a tristeza do corpo e da mente, que congela autora e autor na desagradável condição de nobres disfarçados de mendigos, pois façamos deste nobre tão sofrido a inspiração da mais tocante história de amor.

E no amor quebram-se barreiras, seja ele vestido de anjo ou de pimenteira, fazendo das linhas uma vocação, e se na cartilha da atual vivência está em branco o título da graduação, saiba ardilosa dama que o atual é apenas um pingo diante de tua imensidão.

M.R...Siglas interessantes que de teu nome se inspira, se no “R” está a matéria, no “M” se esconde a lira. Apenas nos “pontos” levanto um questionamento, posto que deles se finda uma questão, talvez hoje mais apropriado fosse o “&” trazendo outras “Mentes” a esta conjunção. Das siglas surge um dueto para formar esta lírica canção - M&R.


M&R

[E quando vi já estava escrito. Só faltou o manual de instruções.]

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Só por Hoje...

Sinto brotar de meu útero a essência dos sonhos que tenho...os meus mais suaves momentos de paz imutáveis, vejo um longo caminho a percorrer, só não sei se posso arrombar essas portas fechadas que trago alojadas no gosto salgado de dias incontáveis, onde sou a única espectadora da minha obra.

Invento palcos e luzes e trilho rompendo limites, entrando em guerras para enfim vencer essa minha vontade de ir embora. Quando a voz da noite me responde apertando o meu peito com uma saudade de algo que está além do meu olhar, vejo nascer a fragilidade sutil de quem gostaria de só por hoje...ESMORECER...

Soltaria cada um dos véus dos meus cansaços para poder me encolher, aconchegada ao seu querer que implora a minha nudez emocional, para poder enfim cuidar de cada parte de mim que é tua.

Caso alguém ouvisse esta voz inaudível por opção, entenderia que na cadência suave de minhas passadas, evidencio o bater de um coração que de tão só se mistura ao movimento...assim como o frio que traz nas entrelinhas a necessidade do cobertor para se proteger do vento.

E como se fosse possível, só por hoje diria...SIM...ESTOU FRÁGIL...quero ser a fragilidade que enlaça as tuas vontades e se faz necessária, fortalecendo o nobre poder de seus olhos sorrindo, e neste sorrir invadir ainda mais, transformando o meu cansaço na paz que mereço ter.

Já não tenho medo de saber quem somos na escuridão, foi nas trevas que fiz brilhar minha inspiração, mas só por hoje quero aquecer meus pés cansados, poder ser salva por um guardião, um amor ou um ser do além, e quem sabe até poder ouvi-lo dizer...

“Isto vai passar também!”


E assim...conduzida pelo teu abraço...me aqueceria na tua presença...para enfim esquecer...só por hoje...que sou forte!


"Abandonou a delicadeza para ser um sussurro breve, um semi-espasmo, seguido de um sorriso abundante. A culpa foi de um sopro de palavras ao pé do ouvido que desmoronou o que se edificou para ser derrubado. Estremeceu a alma de gelo e pôs em combustão o que era escuro e frio. As mãos não pestanejaram: enjaularam o corpo em um abraço assustadoramente afetivo. Uma prisão libertadora. Um aconchego quente." - Paulo Correa


M.R.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Desembarque...





"Você ainda está aqui...de alguma forma."















Sinto repousar o silêncio que tuas palavras deixaram, quando no ar ficou a revoada da decolagem de sua presença.
Desconfortável descontrole...não permitirei que se mantenha em mim! Porém como evitar se tua presença se mantém no perfume deixado em minha pele, e em sensações que a distância não deveria permitir.
Que lágrimas foram essas que ousaram me visitar acompanhadas de um desespero que apenas os fracos deveriam sentir, seria fraqueza ou apenas meu coração decidindo me mostrar quem manda por aqui?
Se ao menos esta sede deixada pudesse ser saciada por outra água, mas na boca ficou apenas o gosto amargo de algo inacabado e de palavras que morreram na ânsia de vir a existir.
Já que decidiu partir então leva o que te pertence, e tire daqui esta presença que insiste em me assaltar tentando roubar este brilho que é meu!
Queria eu poder desistir de querer, arrancar do pensamento as vozes que me dizem das tuas fragilidades, se ao menos eu soubesse que não te faria feliz, e que sou o homem que você nunca quis, mas nem este consolo eu posso me dar, pois sei que é na minha água que está o remédio que cura o vazio que insiste em te acompanhar.
Me diga qual é a língua que devo falar para fazer-lhe entender que a vida é mais do que você parece saber, e entre tantos compromissos da tua agenda atarefada, fica marcado em tempo integral uma solidão que não te deixa ir, e mesmo no movimento de tuas responsabilidades, na alma fica guardado a impossibilidade do sentir.
Coloco minha atenção em você sem você estar, “aeronaves seguem pousando sem você desembarcar”, e no vão de nós dois ficou instalado as palavras que ainda ei de te dizer...mesmo relutando, meu coração sabe a sorte que tive em ter encontrado alguém como você.
Seguirei te cuidando...ainda que você não precise saber...


“Já tentei esquecer
Fingir que vai mudar
Que com o tempo vai passar
Mas é sempre igual
Ninguém pode saber
O quanto eu penso e sinto por você
Mas é sempre assim
Tenho medo de dizer
Que sem você aqui
Os meus dias são sempre iguais”

(Luiza Possi)



"Meu amigo...eis aqui um pouco [muito], de você."

M.R.