...minha escrita até pode ser autodidata,
mas está bem longe de ser autobiográfica...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

CeReJas...



Esta é uma história que fala sobre um par de pés esfolados, algumas cerejas e uma canela.......


Aquele cão triste que chorava em plena madrugada tinha razão, o dia que estava por nascer seria cinza e com o toque invisível da sombra de alguns sorrisos que foram espalhados [ou não]. Senti uma presença invadir meu escritório, um cheiro de canela misturado com saudade me fez focar os instintos para certificar-me de que não enlouquecera.
Não queria mais receber ‘aquelas’ visitas estranhas, e mesmo com o coração em descompasso mantive minha rotina como se não pudesse notar o aroma que invadia o meu espaço. Quem sabe assim aquele cheiro bom pudesse compreender que por hoje estou cansada, que meus pés estão esfolados da caminhada e que aquele [definitivamente], não era um bom dia.
O visitante com perfume de canela não se intimidou e decidiu me dizer que eu deveria saborear as cerejas do viver, que entre um tranco e outro da estrada elas se ofereciam suculentas para aliviar o amargo de cada jornada. Disse também que elas estão por toda a parte aguardando por mim, e eu insistia com essa mania de [fingir] não ver o que via.
Pensei: Que visitante mais folgado, entra na minha vida sem ser chamado e ainda faz pouco dos meus pés esculhambados como se as dores que sinto não fossem nada, só poderia ser mais um pobre e infeliz coitado com pose de bonzinho, e disso eu já estou farta.
Parti decidida para a Cafeteria mais próxima, pedi um capuccino e uns biscoitos de polvilho, percebi alguns olhares brilhantes na minha direção, meu celular tocou e sorri ao ver de quem era a ligação, na saída encontrei uma amiga de infância que caminhava por ali distraída e demos boas risadas em meio àquela avenida gelada.
Ao chegar em casa fiquei espantada em perceber, que apesar de meus pés continuarem a doer, estava me sentido melhor, até sorri para a pilha de coisas que tinha por fazer, respirei profundamente, e naquela respirada senti novamente a tal presença intrometida e perfumada que sem convites [mais uma vez], deu o ar de sua graça pra dizer:
“As cerejas estão sempre ao alcance de nossas mãos, basta apenas olhar e ver o que de teus olhos não há de se abster. E graças a elas este acabou sendo um bom dia.”


E foi assim que meus pés esfolados se renderam a um punhado de cerejas oferecidas por uma canela intrometida...



Maria Rita

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